"O grande debate não é em como recuar o time, mas por quê fazê-lo e apostar pontos que podem te levar ao top 4 em um setor incrivelmente inconfiável"
Por Valentin Furlan — São Paulo
13/04/2021
É uma prova do quão instáveis 90 minutos de futebol podem ser para o Tottenham: o time sofreu mais uma virada - é claro que sofreram - em um dos jogos mais importantes da temporada, contra um grande rival e em casa. O time agora é o 7° colocado – mas Everton, com um jogo a menos, pode ultrapassar na tabela –, a 6 pontos do West Ham, 4° colocado. E a verdade seja dita: não há defesa tão inconsistente que te leve para uma fase de grupos de Liga dos Campeões.
O título da Premier League já está definido - há muito tempo - e o Fulham não parece conseguir criar muitas emoções na briga contra o rebaixamento. Assim, o foco do campeonato, a não ser que haja uma grande reviravolta na parte de baixo da tabela, vai ser voltado à luta pelas vagas às fases de grupos de Champions e Europa League. E, por incrível que pareça, o Tottenham apresenta um futebol tão pouco convincente que sequer é cotado como um dos cinco principais candidatos - Everton, Liverpool, Chelsea, West Ham e Leicester.
Defensivamente, os Spurs têm se mostrado fracos. Ruins. Sergio Reguilón não se salva, mas apresenta certa qualidade no apoio. Do outro lado, é protocolarmente igualável a seus companheiros de zaga, que muito falham e pouco – ou nada – encantam. Até aqui, uma defesa formada pelo lateral espanhhol e Aurier, Rodon e Sánchez ainda não provou ser do tipo que lhe dá segurança para conquistar, digamos, uma vaga na Liga dos Campeões.
E isso é fatídico: o elenco do Tottenham é um dos mais rasos da história recente do clube. Prova disso é o fato de o clube sempre ser refém das jogadas em velocidade de Son, das articulações – espantem – de Harry Kane e das incríveis performances de Hojbjerg, um dos únicos a serem exaltados no setor de meio de campo, aliás. Contudo, faça-se justiça, se um treinador altera em 15 vezes a montagem de sua defesa e mudanças claras não se apresentam, há algo mais a ser contabilizado.
E é um fundamento simples. O trabalho de um técnico se passa não só em se utilizar de pontos positivos de uma equipe, mas também em mascarar negatividades óbvias. E a fraquíssima defesa do Tottenham, hoje, é uma obviedade a todos. Até para Mourinho. A entrevista na zona mista reforça ainda mais a teoria. O "não sei se devo comentar ou compartilhar meu ponto de vista" dá a entender que o português sabe do que estamos falando.
E, potencialmente, saber qual a questão principal é justamente o que mais levanta indagações do porquê em se apoiar em um setor tão frágil. O Tottenham já perdeu incríveis 18 pontos em partidas nas quais liderou o placar em algum momento. Pior, não necessariamente sofre pressões ou é martelado até que a porteira se abra: os tentos vêm de falhas individuais, seja através de bolas paradas, seja através de um contragolpe fulminante, como no terceiro gol sofrido na derrota de domingo para o United, de Mason Greenwood.
No final das contas, o grande debate não é em como recuar o time, mas por quê fazê-lo e apostar pontos que podem te levar ao top 4 em um setor incrivelmente inconfiável. O viável – e óbvio – seria se apoiar ainda mais em seu poderosíssimo ataque e esperar que Son, Kane, Lucas Moura e Bale possam marcar mais tentos do que a defesa concede, por mais arriscado que isso seja.
Existe uma analogia muito conhecida expressada pelo escritor parnasianista Guimarães Júnior: a maior de todas as batalhas não é aquela que é realizada entre exércitos ou rivais, mas aquela que é combatida contra a própria consciência. E, hoje, desapegar da característica que o levou a se tornar um dos grandes treinadores que o esporte já viu é a grande batalha para José Mourinho.
Caramba, concordo mas eh hora do mourinho ir embora!!!