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Colunista do UOL deu palpites para o Brasileirão e também falou sobre consequências do calendário brasileiro de 2021

Por Valentin Furlan — São Paulo

28/07/2021 15h03

Taça do Brasileirão 2019 sendo erguida após conquista do Flamengo — Foto: Wagner Meier / Getty Images

Em meio às oitavas de final da Copa do Brasil, à fase decisiva na Libertadores e ao fim do primeiro terço do Brasileirão, o futebol brasileiro vai tomando forma para o encaminhamento da temporada 2021. E, como de praxe, algumas apostas caem por terra, enquanto o favoritismo de outros começa a despontar.

Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG são os grandes candidatos a tudo que disputam, mas têm pelo caminho equipes de orçamento potencial não tão expressivo, mas com trabalhos a curto ou longo prazo de extrema qualidade. Enquanto isso, por outro lado, São Paulo, Internacional e Grêmio, todos iniciando a temporada com novos trabalhos, representam a inconsistência dentro de campo, seja por motivos políticos, seja pelos desfalques consequentes do arruaceiro calendário de 2021 – ou ambos.

Buscando, portanto, entender melhor o atual cenário da temporada, o Zona Mista entrevistou o colunista do portal UOL, Rodrigo Coutinho. O jornalista passou sua visão e comentou desde os principais candidatos a levantar os canecos, incluindo o 'novo' Flamengo, agora de Renato Gaúcho, até a briga contra o rebaixamento de gigantes nacionais. Além disso, opinou sobre as consequências do novo acordo entre clubes limitando a troca de treinadores durante o ano.

Leia abaixo a entrevista completa:

ZonaMista.net – Grêmio, Internacional e São Paulo começaram o campeonato, por motivos diversos, desapontando seus torcedores e encabeçando a zona do rebaixamento. Qual a influência disso na briga pelo título: promessa de um topo de tabela mais disputado com equipes de menor aporte financeiro ou Atlético, Palmeiras e Flamengo ficam em outra prateleira?

Rodrigo Coutinho – Sinceramente, mesmo que Grêmio, Inter e São Paulo começassem bem o campeonato, eu não acreditaria que seis times pudessem brigar pelo título. Não é nem uma questão de opinião, mas uma questão de estatística: nunca um Campeonato Brasileiro foi assim. No máximo, temos quatro ou três equipes brigando mesmo pelo título, até a última rodada. Parece que 2009 foi o ano em que mais houve disputa, eram quatro times em condição de ser campeão na última rodada, mas repetir aquilo é muito difícil. Mas, sem dúvida, o campeonato acaba mais surpreendente.

– Sinceramente, não acho que Fortaleza, RB Bragantino e Athletico Paranaense vão brigar pelo título, não. São times que ficarão nesse pelotão de frente, sim – eles têm potencial técnico para isso, principalmente Red Bull e Atlético –, mas em determinado momento vai faltar alguma coisa nos confrontos diretos.

Flamengo, Palmeiras e Atlético são times tecnicamente melhores. Por mais que o Atlético, principalmente, seja desorganizado coletivamente, ele tem referências individuais que fazem a diferença. Então, no final das contas, acho que o título vai ser disputado entre os três.

Um dos craques do campeonato até aqui, Hulk celebra um de seus gols na vitória de virada sobre o Corinthians, na Neo Química Arena — Foto: Miguel Schincariol / Getty Images

Renato Gaúcho completou duas semanas de trabalho na Gávea na última segunda-feira (26), e a possibilidade de poupar jogadores durante partidas do Campeonato Brasileiro naturalmente veio à tona, uma vez que se tratava de estratégia reconhecida em seus tempos no Grêmio. No Flamengo, no entanto, o favoritismo ao tricampeonato parece excluir a chance de priorizar competições. A pergunta, portanto, é: poupar atletas é confirmar uma eventual falta de profundidade no elenco ou significa assumir a dificuldade do calendário de 2021 e apostar as fichas em um melhor preparo físico?

– Está muito no início do trabalho para se ter uma noção exata do que representa ele não ter poupado neste começo [vitória por 5 a 0 sobre o Bahia, no fim de semana entre os jogos contra o Defensa y Justicia, pela Libertadores, foi com titulares em campo], mas realmente é uma coisa que me estranha um pouco, já que ele chegava a poupar o time inteiro no Grêmio.

Eu nunca concordei com isso. Acho que um jogador deve ser poupado, sim, mas dentro de um relatório da fisiologia. E duvido que qualquer fisiologia passe um relatório recomendando poupar todos os jogadores titulares, incluindo o goleiro. Acho que isso tira muito o foco do elenco, tira um pouco da responsabilidade. Passa uma sensação de que o treinador não vê aquilo com tanta importância.

– E, realmente, o elenco do Flamengo não possui tanta profundidade, é um elenco desequilibrado em vários setores. A diretoria deveria, inclusive, reforçar não necessariamente com jogadores de primeira linha, mas com jogadores que possam compor bem o elenco, principalmente com meias ofensivos, a principal carência do time reserva. Mas dá para aplicar essa teoria pelos dois lados, porque é o que realmente acontece: você precisa tentar ganhar – e ele [Renato Gaúcho] será cobrado por isso: o torcedor do Flamengo cobra bastante pelo Campeonato Brasileiro e tem ainda a possibilidade do tricampeonato, algo inédito na história do clube e que deve ser de desejo de realização profissional por parte dele – enquanto corre esse risco [no quesito físico]. Não tem jeito, o calendário do futebol brasileiro te coloca nessa situação, e quem consegue superá-la acaba sendo vencedor. Não é fácil e também não quer dizer que quem não consiga não é capaz, mas o profissional que consegue acaba demonstrando um potencial de adaptação muito grande.

Elenco do Fla levanta a taça do Brasileirão 2020; sob o comando de Renato Portaluppi, equipe busca primeiro tricampeonato de sua história — Foto: Buda Mendes / Getty Images

Ainda no quesito anterior, com o foco voltado a Brasileirão e Libertadores, a Copa do Brasil vira a competição "menos desejada" por Atlético e Flamengo (Palmeiras foi eliminado pelo CRB), mesmo quando levada em conta a expressiva premiação?

– Claro que, se formos pensar, seria uma competição "menos importante", do ponto de vista esportivo. Dá vaga direta para a Libertadores, mas dificilmente Flamengo, Atlético-MG e Palmeiras não consigam essa vaga via Brasileirão. Surpreenderia. Títulos da Copa do Brasil o Atlético tem um, o Flamengo tem quatro... Mas é uma competição que com certeza eles também querem ganhar. Se você for conversar com os jogadores, com os treinadores, eles querem também ganhar. Título é sempre bom. E o Flamengo, principalmente, pega o ABC, um time da Série C, então o time reserva dá conta. Talvez, se fosse um adversário um pouco mais difícil, a visão seria outra.


Sem dúvida, no grau de importância, a Copa do Brasil está em 3° lugar, mesmo com essa premiação importante em tempos de pandemia, onde os clubes arrecadam menos. Nesse ponto, acho que parte esportiva ainda vai pesar mais que a premiação.

Quais as chance de RB Bragantino, Fortaleza e Athletico seguirem disputando as primeiras posições da tabela? É justo não os colocarmos no pote de ‘favoritos ao título’?

– Acho que são altas. Como eu falei antes, são trabalhos bem sólidos. O do Fortaleza é mais recente, mas é muito bom o que o Vojvoda vem fazendo, os jogadores jogam em um nível bem acima do que vinham jogando. Pode faltar elenco em determinados momentos e o time vai dar umas osciladas, mas eu vejo o Fortaleza com uma vaga direta para a Libertadores, tem tudo para conseguir isso. RB Bragantino e Athletico Paranaense têm uma filosofia de futebol que vem sendo seguida há mais tempo – por mais que o António Oliveira tenha assumido [o Athletico] nesta temporada, já era auxiliar no ano passado e o time não mudou sua forma de jogar, por mais que tenha ganho alguns jogadores e perdido outros – e são trabalhos também sólidos, de qualidade, de times que sempre buscam a bola e jogam para frente, sobretudo Fortaleza e Bragantino; o Athletico acaba negociando um pouco mais.

– Se é justo ou não colocá-los como favoritos ao título vai muito de cada um. Eu entendo a projeção de quem os coloque lá, não acho que quem faz isso está por fora do que está acontecendo, a pessoa está vendo os jogos e avaliando bem, mas também acho – e me incluo neste segundo grupo – que quando a coisa apertar, um pouco mais para frente, quando os confrontos diretos aparecerem, esses times não vão ter força para enfrentar Palmeiras, Flamengo e Atlético-MG. Acho que eles vão perder mais pontos e têm fatores técnicos que os põem em prejuízo. E não é nenhum demérito. É questão de investimento, de qualidade de elenco.

Se eu tivesse que dizer hoje quem serão os seis primeiros colocados do Brasileirão: o trio Flamengo, Palmeiras e Atlético-MG e esses outros três times, Fortaleza, Athletico Paranaense e RB Bragantino.

Olhando para a segunda metade da classificação, São Paulo, Internacional e Grêmio viram destaques negativos. Os dois tricolores, no entanto, seguem vivos na copa nacional, levantando a questão: a participação na Copa do Brasil pode ser considerada desvantajosa por possivelmente gerar mais desgaste ao elenco e causar uma crise por uma eventual eliminação mais vexatória (ambos têm confrontos com times da Série B – Vasco e Vitória) ou o quesito financeiro e a óbvia possibilidade de título falam mais alto?

– Nesse ponto, acho que é mais o São Paulo, que segue na Libertadores; o Grêmio foi eliminado da Copa Sul-Americana, então dá para administrar melhor o calendário. A prioridade tem que ser se manter na Série A. Se tiver um jogador desgastado, uma viagem muito longa ou alguém próximo de uma lesão, eu não pensaria nem meio segundo em poupar na Copa do Brasil para jogar no Campeonato Brasileiro. Não adianta você ganhar a Copa do Brasil e ficar com a premiação se não se livrar do rebaixamento. A questão do Grêmio é até mais forte em cima disso. Por mais que eu acredite que o Grêmio não vá cair, acho que a briga vai ser contra o rebaixamento até o fim do campeonato, até as últimas rodadas. Já o São Paulo, não. Pode se recuperar um pouco antes, mas tem a questão da Libertadores. Vai ter que dividir a atenção com Campeonato Brasileiro e Copa do Brasil.

Apesar da campanha ruim no nacional, o São Paulo segue vivo na Libertadores, após vencer o Racing, na Argentina, por 3 a 1; time também enfrenta o Vasco, pelas oitavas de final da Copa do Brasil — Foto: Marcelo Endelli / Getty Images

Um acordo firmado entre CBF e clubes prevê que cada equipe pode contratar apenas um treinador pelo resto da temporada seguindo uma demissão unilateral, ou seja, por parte única e exclusiva da diretoria. Com isso, vemos cada vez mais rescisões contratuais “por mútuo acordo”, uma vez que não estas não se aplicam efetivamente à regra. Dessa forma, pode nos dar sua opinião sobre o acordo e suas naturais brechas? Seria o método correto para diminuirmos o número de trocas de comandantes técnicos no nosso futebol?

– Não [é o correto]. O principal método é capacitar dirigentes, a imprensa, jogadores, os profissionais de gestão de futebol, vices... Essas pessoas têm que ser capacitadas para entender os processos de formação de um time: porquê joga bem, porquê joga mal, o método de treinamento, a proposta e filosofia de um treinador com as características dos jogadores que têm... É um cenário de sonho, o Brasil está muito longe disso, outros países também, mas esse é o método correto, é isso que vai fazer a gente, primeiro, contratar melhor os treinadores, errar menos nas contratações. E quando você erra menos na contratação, você tem que demitir menos. Mas [o acordo] é um paliativo. É uma forma de reduzir os danos causados.

A gente até tem visto alguns times que reagiram na temporada, na competição que certamente teriam seus treinadores demitidos se essa regra não tivesse valendo. Posso citar o Ceará e o Juventude: tenho convicção que o Juventude demitiria o Marquinho Santos nas primeiras rodadas do Campeonato Brasileiro e que o Ceará demitiria o Guto Ferreira e só seguraram esses treinador por essa regra, porque sabiam que não teriam como demitir mais outro treinador.

– Na questão do acordo mútuo, acho que o treinador se desvaloriza, a não ser que ele realmente queira sair. Agora, se ele não quer sair, se ele acredita que o trabalho pode continuar e é mandado embora, é um profissional se desvalorizando. Ele não está se levando a sério, está dando brecha para esse tipo de atitude lamentável. É algo que protegeria os treinadores. Então é um paliativo. O método correto não é esse e ainda vai demorar anos e anos para acontecer no futebol.

Quem vai ser o campeão brasileiro?

– Essa é difícil (risos)... mas não vou ficar no muro, não. Acho que vai ser o Flamengo. É o time com mais potencial de tirar essa diferença [de 10 pontos para o líder Palmeiras]: se vencer os dois jogos a menos, fica a quatro pontos do Palmeiras e ainda teria o confronto direto no segundo turno onde, se vencer, ficaria a um... Teria que torcer para o Palmeiras perder pontos, mas eu acho o time do Flamengo, mesmo com o trabalho recente, muito bom tecnicamente. Do meio para frente é absurdo o nível com Arrascaeta, Bruno Henrique, Éverton Ribeiro, mesmo bem abaixo do que pode, Gabigol, Michael jogando bem agora, Vitinho também entrando bem, pode se reforçar com a abertura da janela europeia - e vai se reforçar, ao que tudo indica... Ainda tem Thiago Maia, Rodrigo Caio, Filipe Luís, Diego Alves, William Arão: é um time muito bom. Por mais que o Palmeiras seja um time regular, sólido defensivamente e muito bom tecnicamente, com um elenco até mais equilibrado que o do Flamengo, acredito que o Palmeiras, por essa questão de não desenvolver tanto a parte ofensiva, pode ter problemas em alguns jogos e aí voltar àquelas cobranças que a gente via com o Abel Ferreira, e isso pode desestabilizar o ambiente. E com o Renato, por mais que não tenha tanto repertório tático quanto o Rogério Ceni, me parece estar dando liga a forma como ele conduz o elenco... Parece que ele tem o perfil desses jogadores do Flamengo, de convivência.

– O Atlético eu não acredito que vá ser campeão, não. Mesmo com o Hulk sendo o melhor jogador do campeonato até o momento, acho que é um time muito desorganizado ofensivamente e que, em determinados jogos, também tende a se desorganizar na parte defensiva, porque precisa se expor muito, e não ter o desenvolvimento coletivo acaba atrapalhando contra equipes que se protegem melhor com o sistema defensivo.

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