O debate é sempre válido e deve acontecer. Contudo, os efeitos de sentido devem ser medidos sempre, ainda mais quando a vida está em jogo

O cenário mundial é, atualmente, de grande caos e projeções catastróficas até o momento. Tal fato deve-se ao alastramento mundial de um novo vírus, o COVID-19, caracterizado como pandemia em 11 de março de 2020. O número de casos no mundo, segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), aproxima-se da casa dos 3 milhões. Grande parte das gerações presentes em vida puderam vivenciar um evento parecido (e menos destrutivo, claro): o H1N1. Caso consideremos tempos mais remotos, podemos voltar a 1918 e falar da terrível gripe espanhola, responsável por dizimar cerca de 75 milhões de pessoas. Sim, este é um site de caráter esportivo. Entretanto, as informações citadas valem como embasamento para o assunto deste artigo. Isso porque, na última terça-feira (28), o primeiro ministro da França, Edouard Philippe, anunciou, em decorrência do COVID-19, o cancelamento da liga francesa de futebol (Ligue 1), enquanto a Liga Profissional de Futebol, que organiza esses campeonatos, aguarda a reunião agendada pra a próxima quinta-feira, 30, para que seja dada a declaração oficial. É inegável que o esporte é um dos bens mais importantes para a harmonia espiritual e social no mundo. Porém, sem a vida, o mesmo torna-se impraticável. Embora o futuro do embate humano contra o novo vírus já esteja acontecendo, o desfecho ainda tem data inestimável e é imprevisível, algo que nos leva à segregação de dois principais grupos de opinião: aquele que defende a retomada lenta, gradual e segura do estilo de vida antes levado mundialmente e o que preza pela interrupção brusca dos meios de sociabilização presencial. Claro, ainda existem outras vertentes menos polarizadas que, por sua vez, não são de suma importância para o contexto aqui abordado. A reflexão buscada até agora é útil para a introdução ao discurso de Jean-Michel Aulas, presidente do Lyon, clube que disputa a primeirona do futebol francês.
"Li atentamente o que a UEFA disse, eles queriam que chegássemos até o final das competições, mesmo que precisássemos jogar em um formato reduzido e em agosto. (...) Então, acho que há uma maneira alternativa que consistiria em complementar esse fim de campeonato com uma série de playoffs, para o topo e para o fundo, que aconteceriam em agosto, talvez até julho, a portas fechadas", disse Aulas. "Não precisa ter pressa. Digo a mim mesmo que, talvez, mesmo com as regras duvidosas que foram propostas, ainda haja espaço para terminar o campeonato", completou.

O meu questionamento ao que foi dito pelo presidente do clube francês se dá ao analisar a tabela da Ligue 1: o clube se encontra em 7º lugar na tabela do torneio, estando assim, parcialmente, fora da zona de classificação para as competições europeias pela primeira vez desde 1996. Será que a opinião contrária ao fim do campeonato se dá ao interesse pelos frutos financeiros (diretos e indiretos) provenientes do ingresso nas grandes competições continentais da Europa? A declaração é inconveniente no momento em que vivemos, causando má impressão por parte, até mesmo, dos fãs mais assíduos do bom futebol. O debate é sempre válido e deve acontecer. Contudo, os efeitos de sentido devem ser medidos sempre, ainda mais quando a vida está em jogo.
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